José Alexandre Scheinkman é um dos maiores economistas brasileiros da atualidade. Há anos lecionando na Universidade Princeton, instituição acadêmica listada entre as melhores do mundo, Scheinkman lê o Brasil com os olhos de quem está longe do calor das discussões e dos interesses eleitorais. É provável que seja essa condição que o permita fazer uma análise tão desapaixonada do país, como pode ser visto na entrevista concedida ao redator-chefe André Lahóz que EXAME publica nesta edição. Scheinkman reconhece e aponta as conquistas e os méritos do governo nos últimos oito anos, período do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Elogia as microrreformas que levaram ao aumento do crédito e ajudaram na formação de um dos mercados de consumo mais dinâmicos do mundo. Reconhece os efeitos benéficos de programas sociais, como o Bolsa Família, que, de fato, ajudaram a tirar milhões de brasileiros da pobreza absoluta. Mas Scheinkman também dá um conselho poderoso, que deveria ser ouvido pelo novo presidente, seja ele quem for. (Esta edição de EXAME foi fechada no dia 28 de setembro, cinco dias antes da realização do primeiro turno das eleições.)
É preciso ter ambição, diz ele. É preciso seguir em frente, encarar o custo das transformações e não nos contentar com o que já foi alcançado. No espaço de uma geração, o Brasil mudou - para muito melhor. Mas ainda está longe de ser o país economicamente poderoso e socialmente justo que queremos. É preciso ter ambição. A ambição de dar às próximas gerações de brasileiros um ensino público de qualidade, o mais legítimo dos instrumentos de mobilidade e ascensão social. É preciso ter ambição. A ambição de construirmos um ambiente propício ao empreendedorismo, ao investimento e à criação de empregos. É preciso ter ambição. A ambição de administrar os recursos públicos de maneira profissional, eficiente e ética. É preciso ter ambição. A ambição de fazer prosperar no seio da sociedade o valor do mérito. É preciso ter ambição. A ambição de buscar, sempre, a prosperidade econômica, enxergando no uso sustentável de nossas riquezas naturais não um empecilho, mas uma oportunidade. É preciso ter ambição. A ambição de reforçar, a cada dia e a cada atitude, os princípios democráticos, por mais que eles possam incomodar o poder de plantão. Cada um desses pontos é analisado nas próximas páginas sob a ótica de alguns dos maiores pensadores do país. Construir um Brasil mais próspero, mais justo, desenvolvido e poderoso não depende apenas da consciência de que é preciso fazer mais e melhor. Mas, sem essa humildade e essa ambição, dificilmente daremos o primeiro passo.
CLÁUDIA VASSALLO Portal Exame
